Spaceman – The Killers

 

 

Incrível como pequenas fatos mudam tanto a nossa perspectiva em relação a vida e ao mundo. Incrível como muitas vezes um único fato faz tanta coisa na vida de alguém. Engraçado como em meu último texto eu tentei agradecer por estar alegre e do nada recebi uma mensagem onde me disseram que eu não ligava pras lágrimas que causei. Confesso que isso ficou martelando a minha cabeça, por ter vindo de onde veio, como veio e sem a devida cobrança pela determinada lágrima.

Confesso que num momento imaginei que a felicidade de alguém pode simplesmente machucar alguém pelo simples fato dela existir. Eu sou daqueles que realmente acredita que é impossível ser feliz sozinho, mas não quer dizer que eu precise ter alguém ao meu lado e sim que eu preciso que os próximos a mim estejam felizes para que eu me sinta também feliz. Uma espécie de efeito manada.

Claro que um sonho seria poder fazer as pessoas felizes apenas pelo exemplo. Queria que a minha felicidade contagiasse todo mundo e sinto pena de quem acaba sentindo o oposto pelo fato de ver alguém feliz. Isso dito, vale a pena falar de exemplos que realmente marcam. Vivemos num país de baixa idolatria. Um país sem heróis e que tenta de todas as formas destruir os poucos heróis que tem. Direto vejo gente chamando Tiradentes de engodo, Zumbi ter sua orientação sexual contestada e colocada acima de sua importância histórica (o que a orientação sexual de alguém muda nos seus atos?)

Quinta e sexta estive ao lado de um dos raros heróis brasileiros atuais. Um dos únicos da área de ciência e tecnologia, com certeza o mais popular dessa área. Trabalhei como voluntário num evento organizado pelo Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro. Primeiro homem de nosso país a conseguir realizar um sonho de provavelmente muitas de nossas crianças. Já o havia conhecido antes, então o jeito simples e sem afetação não foi novidade. Nem mesmo a forma atenciosa como atendeu todas as crianças ávidas por uma foto, um abraço um autógrafo (levei um livro autografado pra minha namorada, ninguém é de ferro e mesmo trabalhando tive meu momento tiete).

O que pude perceber ali, é que muita gente idolatra o que ele fez. Principalmente as crianças. O que me incomoda é saber que muita gente inveja a conquista dele. Muita gente briga por um brilho maior do que o da estrela estabelecida. Como se o sucesso do outro de alguma forma impedisse o seu. Pessoas buscam erros  nas menores ações, nos menores passos e fazem questão de divulgar.

Parece que é proibido para o famoso cometer um erro. Ele não pode ser humano, tem que ser perfeito. Os detratores querem sempre a falha e nunca realçam as qualidades. E eu me pergunto o porquê. Seria muito mais justo entender que todo mundo erra e que mesmo errando como todo mundo, tem gente que consegue ir além dos erros e conseguir acertos que maravilham muita gente e servem de inspiração.

Fico pensando se por estar feliz e dizer isso eu de certa forma incomodei, imagine como incomodam aqueles que realmente inspiram e principalmente o peso que eles carregam por isso. Porque mais do que fazer o duro é manter o exemplo. Isso não depende de quem faz, depende bem mais de quem olha saber ter o olhar livre o suficiente para ver apenas o lado positivo. Depende de quem vê perceber que as glórias muitas vezes são bem mais do que merecidas.

Não se busca a perfeição e a plenitude. Busca-se sempre o melhor exemplo. Todo mundo quer ser a melhor pessoa possível e minimizar seus erros. Infelizmente a gente sempre vai errar em algum ponto, causar alguma lágrima, mas reitero que mais importante que as lágrimas que a gente causa (e de alguma forma tenta estancar a dor de quem chora) são os sorrisos que a gente cria.

Stardust – Louis Armstrong

 

 

A morte de um Armstrong e o deslize de outro me fez pensar no terceiro famoso que eu conheço. O músico negro de jazz, que me apresentou talvez o estilo musical mais  intrigante que eu conheço. O homem que idolatro pela qualidade de sua música. Aliás, esse é o lado racional de se ter ídolos. A gente deve saber porque os idolatra. A gente tem que ter claro que ninguém vai ser bom em tudo e justamente por isso, os pontos de destaque merecem ser reverenciados.

Escrevo isso depois de um comentário que li num de meus últimos posts. Um daqueles textos que fazem a gente pensar mais do que a gente realmente pensou ao fazer o próprio texto. Por isso eu gosto tanto dos comentários, eles me enriquecem de uma maneira absurdamente estranha e profunda.

Tudo bem que eu já tinha dito muitos textos atrás qual a minha real relação de idolatria com as pessoas, entretanto, reparei que nunca havia escrito sobre a idolatria que sinto pela pessoa comum. O quanto admiro quem me acompanha todo dia, quem eu vejo, quem me ensina, quem me corrige e principalmente quem me faz pensar.

Penso no quanto aprendo com meus alunos, no quando admiro alguns colegas de trabalho. Penso em como observar algumas pessoas me faz entender de maneira mais clara o que exatamente é esse mundo que me cerca. No final das contas, o que mais me encanta é perceber o quanto essas pessoas me fazem feliz.

Percebo também que existe espaço para novas pessoas em minha vida. Gente que nunca vi ao vivo mas interage comigo de alguma forma, gente que nunca vi e nunca interagi, mas que por alguma loucura do destino acabarei conhecendo e até mesmo gente que agora faz parte do meu passado e que acabará retornando.

Aprendi a tentar encontrar o lado bom de cada um. Todo mundo sempre tem algo a ensinar, algo a aprender, algo e fazer sentir. E o engraçado é perceber que descobri isso justamente a partir dos meus maiores medos. Aprendi isso principalmente devido a minha imensa timidez. Aprendi porque sou obrigado a observar cada um que se aproxima com a maior riqueza de detalhes possível. Só assim consigo ser minimamente agradável e sociável ao primeiro contato, gerando assim os contatos posteriores. Meus alunos infelizmente sabem que as primeiras aulas com cada turma costumam ser extremamente enfadonhas, confesso que no começo eu tenho medo deles.

Medo, tenho medo de tanta coisa, de tanta gente. Tenho tanto medo que preciso me apegar ao que vejo de bom em cada um. Só assim para superar tudo e seguir adiante numa vida social normal. Só assim para conviver num mundo que é feito de contatos. Se fico triste pelo esforço que faço para fazer coisas tão simples, fico alegre por justamente isso me proporcionar a chance de perceber que todo mundo tem algo bom. Todo mundo oferece alguma coisa boa mesmo que procure esconder essas ações.

Isso me fez perceber que aquele aluno chato tem um ótimo raciocínio lógico. Que aquela mulher apesar de vulgar apresenta um grande coração. Que apesar de lento, o homem que me atende é extremamente atencioso.

Talvez por isso eu raramente me frustre com alguém. Não costumo esperar nada de uma pessoa, apenas observo e espero que ela me ofereça algo que acredite ser seu melhor lado. Se ela não me oferece nada, me resigno, percebo que no fundo, provavelmente fui eu que ainda não soube ler direito essa pessoa. Talvez por isso me apaixone tanto , talvez por isso eu sofra tão pouco pelo desprezo do outro. Porque eu me satisfaço com o que recebo de bom e me desfaço de tudo aquilo que percebo ser ruim. Por isso os três Armstrong fazem tanto sentido para mim agora. Ouvir Satchmo tocando e cantando Stardust me leva a lugares tão malucos e distantes. Eu penso na poeira espacial que Neil trouxe da Lua, imagino os devaneios que levaram Lance a se dopar, mesmo sendo um exemplo por sua luta pela vida e me encanto com toda a arte de Louis. Mesmo tão distantes entre si, parecem lado a lado os três nessa canção.

Walking On The Moon – The Police

 

 

Todos temos nossos heróis,modelos, pessoas que nos inspiram a sermos melhores e a fazer determinadas coisas. Pessoas que de uma maneira ou de outra funcionam como um caminho a ser seguido. Algumas vezes esses ídolos caem, outras cometem falhas graves e em alguns momentos se eternizam.

Nessa semana infelizmente eu perdi dois dos meus grandes ídolos. Um cai por uma falha grave e o outro se eternizou e não está mais entre nós. Ainda estou remoendo a falha do Lance Armstrong. Tentando aceitar a culpa daquele que sempre vi como um dos maiores ciclistas da história, com as suas 7 vitórias no Tour de France e que concorria na minha idolatria com o Miguel Indurain, que agora reina absoluto no meu carinho por ciclistas. Pelo menos até eu ter uma certa ideia do que realmente aconteceu nessa história de doping.

Por outro lado, outro nome segue agora realmente eterno. Passa para a história imaculado e seu grande feito ainda hoje é visto como algo sem precedentes na história humana. Infelizmente perdemos Neil Armstrong. O primeiro homem a pisar na lua e provavelmente o mais discreto de todos os grandes astronautas.

A figura de Armstrong me encanta por diversos fatores. A frase emblemática da sua conquista. O chegar a um novo mundo, talvez tão raro e difícil quanto foi para os primeiros homens sair da África ou para os primeiros navegadores chegarem até a Europa foi um grande feito. Mas para mim, maior que tudo isso foi a sua frase.

Carrego comigo sempre em pensamento o que ele disse. A frase que me serve de mote e de inspiração para cada ação minha. Talvez por isso eu tenha as vezes tanto cuidado com cada palavra que eu diga. Talvez por isso eu pese tanto as ações em cada momento. Meus pequenos passos podem causar grandes problemas, minhas frases mal construídas podem gerar muita tristeza e ofensa. Eu sou o responsável por  tudo aquilo que faço. E se consigo uma vitória, que ela seja apenas isso, uma vitória e não um totem a ser idolatrado.

Armstrong, foi a Lua, pisou no solo lunar antes de qualquer outra pessoa. Ao voltar ao nosso planeta, poderia ter uma vida toda baseada no seu sucesso único. Não foi o fez. Não transformou seu próprio valor em divindade. Fez da discrição um lema, tornou-se professor e agora infelizmente faleceu. Deixou-nos o exemplo de um grande homem que vale mais do que seu grande feito.

Se dias atrás eu via a Lua sorrindo para mim, hoje imagino que ela está triste. Talvez triste como eu me sinto com a perda irreparável. A lua perdeu seu primeiro visitante, eu perdi um ídolo e o mundo perdeu um modelo. Nos resta agora seguir o exemplo, lembrar que nossas ações podem gerar grandes influências em tudo o que nos cerca. Porque se um pequeno passo para um homem pode gerar um gigantes avanço para a humanidade, pode nos levar também a um grande retrocesso.

We Don’t Need Another Hero – Tina Turner

Quando aprenderemos a somente louvar alguém pelo que ela é boa e não execrar todos por suas falhas?

E teve a esperada zebra na final do SuperBowl. Mais um herói do sonho americano foi criado. Assisti ao jogo e confesso que com todo o clima criado era impossível torcer pelos Colts, a torcida toda era pelos Saints, na verdade pela cidade de New Orleans. A vitória serviu como marco do renascimento após os problemas com o Katrina anos atrás. A cidade se reconstruiu, o time se construi, nas últimas temporadas pós Katrina, pulou de saco de pancadas para campeão.

O herói foi Drew Brees, atleta que por si só já teria uma história de vida que daria um filme, aliás não duvido que em alguns anos essa história seja transformada em filme. Como disse no último texto, os norte-americanos adoram criar heróis, nós brasileiros adorar ridicularizar os nossos.

O cinema acaba sendo uma referência, quantos filmes existem sobre heróis brasileiros? O futebol, provavelmente o tema que mais nos dá orgulho no mundo nos trouxe que filmes? Boleiros 1 e 2 são ótimos filmes, mas estão mais para comédia, assim como o divertidíssimo como O Casamento de Romeu e Julieta. Temos uma biografia do Garrincha e documentários sobre alguns craques. Mas cinema comercial mesmo, nada. Talvez os documentários sobre a conquista corinthiana em 77 e o filme sobre o martírio da série B (eu acho que tem um filme sobre a Batalha dos Aflitos do Grêmio, mas não tenho certeza).

Nós renegamos nossos heróis. Algo como Tina Turner cantando We don’t need another hero (clique aqui para ouvir) em Mad Max além da Cúpula do Trovão. Criamos um mundo apocalíptico onde todos só tem defeitos, as qualidades são empurradas pra baixo do tapete. Tiramos sarro de tudo e de todos e principalmente daqueles que possuem algo que se destaque. É o complexo de vira-latas que domina o ideário do nosso povo.

Aceitamos de bom grado tudo o que vem de alguma nação mais poderosa economicamente, destruímos pouco a pouco a nossa cultura acreditando que o que vem desses povos é melhor do que o que nós produzimos. Eu discordo disso. Assim como também discordo da outra face desse mesmo embate. Não somos melhores do que nações mais pobres, somos iguais, apenas temos que aprender a ver o que cada um tem de bom, reverenciar e aprender com isso e ver o que cada um tem de ruim sem transformar isso numa brincadeira jocosa. O que vale não é de onde você veio, mas sim o que você é.

Acho estranho não termos documentos populares (músicas, esculturas, filmes, etc.) sobre pessoas como Guilherme Paraense, João do Pulo, ou Ademar Ferreira da Silva. Guga um herói recente já foi esquecido. Rui Barbosa não é visto nem nas escolas. A nossa produção cultural é relegada ao segundo plano, aliás, eu nesse post não uso uma canção brasileira. Meio estranho, mas verdadeiro. Eu tenho que assumir minhas falhas também.

Converso as vezes com alunos sobre alguns grandes nomes brasileiros, é chato descobrir que estes nomes nunca são sequer reconhecidos. Mais chato ainda é perceber que pra ser reconhecido, a validação da qualidade deve ser externa. Não vale apenas ser importante para o nosso país aqui dentro. É  preciso ser reconhecido por alguma grande nação, aliás por alguma nação que seja vista como grande aos nossos olhos.

Parabéns Drew Brees, parabéns New Orleans, parabéns Saints. Mas também parabéns a imensa quantidade de heróis que vivem aqui em nosso pais e nunca são reconhecidos, talvez por descrença, talvez por inveja. Parabéns aos nossos bons heróis.

O próximo post volta a falar do Forrest Gump, e retomo um assunto que até citei, só que visto do outro lado da moeda. Quero falar da necessidade de se ter heróis, mesmo sabendo que no fundo os heróis são apenas o retrato do homem comum, eu admito a importância dos mesmos para a construção dos homens das nossas sociedades.

My Generation – The Who

Quando o nosso futebol vai ser tão grande quanto o americano?

Volto hoje pra mais um post pensado em cima do Forrest Gump. Hoje é dia so Superbowl, provavelmente o maior evento esportivo mundial no que tange a marketing. Talvez maior do que a Copa do Mundo. Até hoje eu não consigo entender como um esporte que só é praticado num lugar do mundo consegue movimentar tanta grana e tantas pessoas em locais tão diversos do globo.

Se você perguntar pras pessoas próximas a você quantas já jogaram futebol americano, provavelmente a resposta será zero ou perto disso. Mesmo assim, os jornais todo ano trazem notícias o evento, a televisão paga mostra o jogo e o show do intervalo (esse ano é do The Who) é super comentado. Amanhã provavelmente vou ouvir e fazer comentários da partida na escola. Talvez mais comentários do que sobre o retorno do Robinho ao Santos com gol de calcanhar em cima do São Paulo.

Mas o que isso tudo tem a ver com o Forrest Gump? Pra quem viu o filme, Forrest tem um emprego como aparador da grama do time de futebol americano de sua escola. É um cargo honorário por ser um herói local. E é justamente nesse ponto que quero centrar minha análise. A capacidade norte-americana de gerar ídolos e a capacidade brasileira de destruir ídolos nacionais. Forrest tornou-se um herói de guerra, foi tratado como herói o tempo todo mesmo tendo graves limitações. Duvido que aqui ocorresse o mesmo.

Não sou um defensor da cultura norte-americana, mas acho interessante essa coisa de tentar sempre ser o melhor em algo e lutar por isso. Mais interessante é valorizar isso. Penso agora no The Who e na música My Generation (clique para ouvir), (aqui uma versão engraçada da música, cantada por idosos) espero que toquem no intervalo do Super Bowl hoje. A música fala de uma rebeldia jovem, de uma luta constante na geração e contra a geração. Fala da ideia de se morrer jovem, e ai eu penso na juventude mental e não na juventude etária.

Vejo essa gana da música como principal motivo pra se criarem heróis e estes serem idolatrados. Alguém que se destaque no meio da massa por algum motivo merece ser idolatrado e não invejado. Infelizmente é a inveja que impera aqui em nosso país nesse aspecto. Já falei que exigimos de atletas mais do que eles podem oferecer, que um músico não pode só tocar seu instrumento e um ator além de atuar deve mudar o mundo. Coisa que o cidadão médio nem liga, apenas cobra.

Forrest de certa forma mudou parte de seu mundo e tomou parte de acontecimentos importantes. Por isso, mesmo mentalmente debilitado, sempre foi visto como herói. Assim como hoje deve acontecer no Super Bowl. Esse evento merece mais linhas de discussão.

O principal enfoque desse evento é criar heróis. Mais do que definir quem é a melhor equipe de futebol americano, serve para definir novos heróis nesse esporte. As entrevistas prévias, a maneira como tudo é levado faz-nos enxergar o evento como uma fábrica de ídolos. Nesse ano, por exemplo, vende-se a disputa entre o candidato a melhor jogador da história e o time da cidade que mais sofreu com o Katrina (aliás cidade de onde saiu Payton Manning o tal candidato a melhor da história que era torcedor do time de New Orleans).

A disputa toda parece resumida a essa disputa e a questões familiares, com a amizade entre o quarter-back dos Saints e o irmão do Manning que joga nos Colts. O drama é elevado ao máximo. No ano passado exploraram a idade dos quarter-backs, em anos anteriores histórias de vida de atletas ou mesmo histórias das cidades dos times.

Aqui no Brasil a gente mal consegue divulgar um Corinthians x Palmeiras e olha que existe muito mais história nesse confronto do que nas partidas do futebol americano. Isso acontece a meu ver, em grande parte, pelo fato de que não respeitamos o tamanho do adversário. Nós procuramos defeitos em tudo que não nos pertence e nunca idolatramos alguém só por aquilo que esse alguém tem de bom. Quem sabe mudamos isso um dia? Garanto que teríamos muito menos confusão e muito mais alegrias como brasileiro do que temos hoje, sem falso populismo, até porque infelizmente só os políticos são impunes nesse país. Eles nunca são cobrados e são sempre premiados.

Eu torço para o dia em que uma final de campeonato brasileiro de futebol ou de qualquer outro esporte tenha o mesmo peso que tem a final da NFL e seu SuperBowl

Jokerman – Bob Dylan

As vezes só uma piada nos mantém a sanidade

 

Continuando a saga dos Watchmen, hoje falo do Comediante, Eddie Blake com certeza é o personagem que melhor encarna a preocupação da população que picha paredes com a frase Who Watches the Watchmen (traduzindo como algo parecido com quem vigia os vigilantes). Até a escolha de seu codinome é ácida. O tal senso de humor desse comediante é corrosivo e perigoso. A forma como ele vê o mundo funciona como uma caricatura de tudo o que acontece.

Partindo para uma linha mais popular de quadrinhos, alguns aspectos do Comediante lembram o Batman pós Cavaleiro das Trevas (lançado no mesmo ano, 1986). Uma tentativa de tentar criar um tipo de entretenimento mais adulto. O Comediante tem um quê de Batman e um quê de Coringa. O sarcasmo é forte, o riso apocalíptico escondido em seus comentários lembra bastante o palhaço do crime. A trilha sonora escolhida segue essa linha. O bardo Bob Dylan cantando Jokerman (clique aqui para ver e ouvir). Os versos parecem traduzir a mente tortuosa do Comediante. Alguém que conhece tão bem o lado obscuro da alma humana que se vale do sarcasmo para manter o que lhe resta de sanidade.

O único momento em que ele parece sucumbir ao peso que carrega e ao olhar questionador que tem do mundo. Quando visita seu antigo inimigo Moloch. O seu choro sincero e o aparente desespero (mais visíveis nos quadrinhos do que no filme) o tornam mais real e factível. Não diria mais humano, porque encaro o seu sarcasmo violento como uma leitura totalmente humana e válida da sociedade.

Ao rir da sociedade doente, o Comediante não está fazendo nada diferente do que fazer uma análise crítica também do mundo em que nós vivemos. Uma sociedade em que notícias como essa (clique para ler) aparecem. Alguém é atacado numa livraria sem qualquer motivo e sem ter tempo algum para reagir. Coisas de um mundo doente que me fazem acreditar mesmo que momentaneamente, numa frase do Comediante: “Nós os protegemos deles mesmos.”

Entrei em férias a poucos dias e tirando a minha famosa fobia social do centro da conversa, caminhei por alguns locais perto de casa. Fui ao mercado para ser mais exato. No caminho, fui hostilizado devido a camisa que eu vestia. E vendo o rosto das pessoas, percebia-se o medo estampado em alguns e o desejo de violência em outros, esperando que eu respondesse algo para que existisse na mente tacanha de alguns, motivo suficiente para se iniciar uma briga.

É nesse mundo pesado que estamos inseridos. Vale a pena viver nele? Esse é um questionamento maluco, mas que merece ser feito. Vale a pena existir num lugar assim tão opressivo? Vale a pena cuidar de um grupo para que ele não se mate? Vale a pena investir nosso esforço nisso?

A sensação que muitas vezes tenho é a de que só sendo meio pirado como o Comediante é para conseguir manter-se minimamente tranqüilo nessa nossa realidade torpe. Você tem que fazer aquilo que tem que ser feito e não se envolver emocionalmente com nada. Você observa gente que poderia fazer (falo de uma cena específica da história, quando você ver vai se lembrar) acaba se omitindo por motivos diversos.

Eu nesse contexto me sinto um completo inútil e assumo que não gosto de viver num lugar como esse. As opções pra pessoas que pensam como eu são duas. Desistir e abraçar o suicídio (ou a vida suicida que o Comediante de certa forma adotou) ou tentar mudar, o problema é descobrir como mudar  e principalmente o pior é descobrir que a maioria não quer que nada muda.

The Invisible Man – Queen

O inseto se aproveita da semelhança de cor e aparente textura entre ele e a folha para se proteger de predadores

Todos temos nossos ídolos. Eu tenho vários, e essa semana tenho falado de alguns. Como gostaria de finalizar a semana falando do que mais me atrai, deixei Bates para o final. Ele de certa forma acabou se tornando o maior exemplo humano para mim. Fez o que tinha que ser feito, para os padrões de sua época tinha quase nenhum tipo de preconceito, falava com negros e índios numa época em que ambos eram considerados sub-raças pelos brancos europeus.

Darwin e em menor instância Wallace ficaram famosos pela teoria da Evolução usando seleção natural. Porém, os trabalhos de Bates com os insetos amazônicos foram fundamentais para que as idéias de Darwin se tornassem aceitas. E nem mesmo assim ele figura entre os mais famosos, até mesmo entre as pessoas da área. Na faculdade de Ciências Biológicas ouvimos sim falar de mimetismo, mas pouco ou nada ouvimos falar do homem que organizou o conceito a partir de suas observações.

Escolher a música pra servir de trilha hoje foi difícil, ficou horas fuçando na internet até achar alguma idéia legal. Ai acabo revisitando uma banda que gosto pra caramba. O Queen é uma das bandas de rock mais famosas de todos os tempos. Infelizmente acabou com a morte de Freddie Mercury, vitimado pelo HIV. The Invisible man (clique aqui para ver o clipe), é um rock gostoso de se ouvir o o clipe me remete também a minha infância (o vídeo game do garoto com certeza é um Atari), mas isso é papo para outra postagem.

Acho que vale a pena falar do que Bates descobriu. Coletando insetos na Amazônia, ele descobriu que animais de grupos diferentes eram muito parecidos entre si. E que sempre um dos grupos era venenoso, pouco palatável ou causava medo em possíveis predadores. Essa imitação ficou conhecida por mimetismo.

É claro que esse é um processo longo, nem vamos entrar no mérito de como isso acontece, mas vale a pena ressaltar que isso realmente é observável na natureza e ocorre. Vale também ressaltar que o nosso comportamento dentro da espécie também tende em muitos casos a ser mimético.

É comum imitarmos nossos ídolos, aliás, é por isso que os temos. É comum vestir algo que seja da moda, comer o que todo mundo próximo como, agir como um grupo, para ser reconhecido como parte dele e forçar a uma leitura prévia sem que seja preciso aproximação e conversa. É o que ocorre na natureza, seres imitam outros querendo passar a mensagem de que são como os imitados, venenosos, amargos ou poderosos, ou ainda, como no caso de uma aranha que imita uma flor, atrativos a ponto de enganar possíveis presas. Ou ainda, tornar-se invisível aos olhos, como sugere a música do Queen.

Essa descoberta foi algo super importante para a história da ciência que eu mais curto. Porém não é esse o motivo principal de Bates ser meu ídolo máximo. Gosto do Bates por, segundo seus biógrafos, ele ter sido um cara normal dentro de um meio onde sempre existiram pessoas afetadas e cheias de si.

Bates era comum, caminhava com os negros e índios, trabalhou numa fábrica antes de vir ao Brasil. Quando voltou para a Inglaterra teve um trabalho burocrático que lhe permitiu manter a sua família. E ainda fez descobertas, cerca de 8000 novos animais só na Amazônia e principalmente o mimetismo. Mesmo assim, nunca foi tão famoso a ponto de ser celebrado.

Com certo romantismo em minha fala, chego a vê-lo imitando o homem comum, passando praticamente invisível de toda a badalação de seus colegas mais famosos como Darwin e Wallace.

De certa forma eu procuro isso para minha vida, o prazer em fazer o que tenho que fazer, sem esperar reconhecimento e glória, apenas a satisfação por fazer bem feito. E principalmente tento ser gente comum, gente como a gente, alguém que se policia buscando expurgar todos os preconceitos que infelizmente ainda tenho.